Oito anos após o sequestro que chocou os EUA, a história de Elizabeth Thomas ressurge: vulnerabilidade, manipulação e a busca por um recomeço
Há oito anos, um caso de sequestro e abuso abalou os Estados Unidos. Elizabeth Thomas, então com 15 anos, foi raptada por Tad Cummins, seu professor de ensino médio, e mantida em cativeiro por quase 40 dias. A história, que se desenrolou em 2016, revela um complexo cenário de vulnerabilidade, manipulação e abuso de poder.
A garota carregava um histórico de fragilidade. Educada em casa durante grande parte da vida, ela enfrentou abusos maternos e sofria bullying na escola.Cummins, que lecionava ciências da saúde, aproveitou-se dessa vulnerabilidade para assediá-la.
O professor, então com 50 anos, iniciou um padrão de abuso que se estendeu por um ano. Sob o pretexto de oferecer apoio, ele a levava para um armário na sala de aula, onde a beijava e tocava. As ameaças de suicídio e de violência contra a família da jovem a silenciaram.
Tad criou um laço de "dependência" com Elizabeth, oferecendo-lhe presentes e atenção. O pai da jovem, Anthony Thomas, relatou à revista PEOPLE que o professor a ajudava com os trabalhos escolares, dava-lhe dinheiro e tentava protegê-la de problemas.
Em janeiro de 2017, um beijo flagrado por uma testemunha levou à suspensão do professor. No entanto, ele continuou a manipular a menina, convencendo-a a fugir com ele.
Em 13 de março de 2017, Elizabeth e Cummins desapareceram. Ela comunicou uma amiga que se não fugisse, iria prejudicar sua família. Já o professor, por sua vez, retirou dinheiro de um cofre e deixou um bilhete para a esposa, alegando precisar de um tempo para "clarear a mente".
Eles seguiram inicialmente para Decaturville, no Alabama, onde já começaram a tomar medidas para dificultar o rastreamento, trocando a placa do carro. A viagem continuou pelo Mississippi e Oklahoma, onde foram flagrados por câmeras de segurança em um supermercado. Em seguida, seguiram para o Colorado, adotando os pseudônimos John e Joanne Castro, numa tentativa de construir uma nova identidade.
Com o desaparecimento de Elizabeth, as autoridades agiram rapidamente. Ainda na tarde do mesmo dia, a jovem foi oficialmente declarada desaparecida. O Departamento de Xerife do Condado de Maury iniciou uma busca intensiva que se estendeu por 38 dias. O caso teve um desfecho positivo graças a uma denúncia que levou ao encontro da garota e à prisão de seu sequestrador.
Cummins encontrou um refúgio isolado para eles, alugando uma cabana nas proximidades de Cecilville, na Califórnia. A descrição do local, feita pelo advogado da família, revela um ambiente precário: apenas quatro paredes, sem água encanada, eletricidade ou aquecimento. A sobrevivência exigiu medidas extremas, como a ingestão de flores silvestres. Para manter a farsa, o homem apresentou a menina ao proprietário, Griffin Barry, como uma mulher de 24 anos, enquanto ele se passava por um homem na casa dos 30.
A descoberta da verdadeira identidade do professor ocorreu quando o proprietário da cabana, reconheceu os dois em uma reportagem. Imediatamente, ele alertou as autoridades, que confirmaram a ligação do carro encontrado na propriedade com o veículo utilizado na fuga. Na manhã seguinte, em 20 de abril, as forças policiais realizaram a prisão de Cummins e resgataram Elizabeth. O julgamento do sequestrador resultou em sua condenação a 20 anos de prisão, em 16 de janeiro de 2019.
Após o resgate, a jovem retornou ao convívio familiar e iniciou acompanhamento terapêutico. Seis meses depois, ela concedeu uma entrevista ao Columbia Daily Herald, revelando que estava morando com o irmão mais velho, estudando em casa e trabalhando como babá. "Não me arrependo, nem digo que foi a coisa certa a fazer", declarou. "Foi uma experiência com a qual terei que conviver pelo resto da minha vida".
Segundo o UOL, no final de 2018, Elizabeth encontrou o amor e a estabilidade ao ficar noiva de um amigo. O casamento aconteceu no ano seguinte, e o casal deu as boas-vindas a um filho.
Em 2023, buscando aprofundar seu processo de cura, ela tomou a decisão de contar sua história no filme "Abducted By My Teacher" ("Sequestrada pelo Meu Professor"). Para ela, o projeto cinematográfico representou um passo importante para fechar esse capítulo traumático de sua vida.