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Notícias / Arqueologia

Designer brasileiro recria face de Lucy, que viveu há 3,2 milhões de anos

O designer brasileiro Cicero Moraes apresentou a reconstituição da face de Lucy, uma Australopithecus afarensis que viveu há 3,2 milhões de anos

Luiza Lopes Publicado em 10/04/2025, às 12h01

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Reconstrução facial de Lucy - Divulgação/Cicero Moraes
Reconstrução facial de Lucy - Divulgação/Cicero Moraes

O designer brasileiro Cicero Moraes, reconhecido por suas reconstruções faciais de figuras históricas, apresentou recentemente a reconstituição da face de Lucy, uma Australopithecus afarensis que viveu há 3,2 milhões de anos. 

Descoberto em 1974 pelo professor Donald Johanson no deserto de Afar, na Etiópia, o fóssil foi, por muito tempo, o hominídeo mais antigo já encontrado. Em 2001, essa posição foi ocupada pelo Sahelanthropus tchadensis, descoberto no Chade, com cerca de 7 milhões de anos.

Lucy também se destacou como um dos fósseis mais completos já recuperados, com 40% do esqueleto preservado. Com 106 cm de altura, ela combinava locomoção bípede e habilidades arborícolas. O joelho valgo, a curvatura lombar e os pés planos fisiológicos indicam sua capacidade de caminhar ereta, tornando-a um elo fundamental na compreensão da evolução humana.

Reconstrução

Em entrevista ao Aventuras na História, Moraes contou que o processo de reconstrução envolveu a técnica de deformação anatômica, que consiste em utilizar um análogo moderno para transformar sua estrutura em algo compatível com o fóssil estudado. 

No caso de Lucy, foi utilizada a tomografia de um chimpanzé (Pan troglodytes), cuja pele e crânio foram sobrepostos ao modelo digital do fóssil. A partir dessa sobreposição, toda a estrutura foi deformada até que o crânio do chimpanzé assumisse a forma do de Lucy, o que, por consequência, gerou um rosto diferente do primata original, mas coerente com o que seria a face da australopiteca em vida.

Embora seja uma aproximação e não uma reprodução exata, o processo segue parâmetros estatísticos e anatômicos para alcançar a maior coerência possível", afirma.
A) Réplica do crânio de Lucy vs. fragmentos de crânio de Lucy ajustados por dados estatísticos; B) Réplica do crânio de Lucy vs. fragmentos do espécime A.L. 417-1; C) Réplica do crânio de Lucy vs. fragmentos do espécime A.L. 822-1 / Crédito: Divulgação/Cicero Moraes
A e C) Cabeça segmentada a partir de uma tomografia posicionada sobre a réplica do crânio de Lucy; B e D) Cabeça do doador virtual ajustada à réplica de Lucy; E) Tecido mole e tecido ósseo de ambas as espécies lado a lado / Crédito: Divulgação/Cicero Moraes

Após essa primeira etapa, um busto simples foi gerado e passou por um aprimoramento estrutural. Com a ajuda de escultura digital, foram adicionadas marcas de expressão, pelos e pigmentação.

A coloração da pele foi baseada tanto nos estudos do ambiente em que Lucy viveu quanto nas análises da equipe que descobriu o fóssil, sugerindo uma tonalidade escura compatível com o clima da época.

"Para contemplar diferentes abordagens, foram criadas três versões do rosto: uma artística, pigmentada e detalhada; outra em tons de cinza, sem pelos, enfatizando apenas a estrutura facial; e uma terceira versão minimalista, focada apenas na forma básica da face, sem marcas de expressão", destaca Moraes

A) Busto final sobre a malha de deformação anatômica; B) Escultura digital dos detalhes faciais; C) Configuração do cabelo e renderização da cena / Crédito: Divulgação/Cicero Moraes
Aproximação facial objetiva com elementos simples / Crédito: Divulgação/Cicero Moraes
A) Réplica do crânio de Lucy com segmentação endocast da deformação anatômica de um chimpanzé; B) Gráfico bidimensional com volume cerebral no eixo horizontal e circunferência da cabeça (com tecido mole) no eixo vertical; C) Região ampliada mostrando o posicionamento de Lucy / Crédito: Divulgação/Cicero Moraes

Desafios

Segundo o brasileiro, o grande desafio do projeto foi lidar com as lacunas na estrutura óssea de Lucy

Apesar de Lucy ter cerca de 40% do esqueleto preservado, a região do crânio continha mais fragmentos da mandíbula, quase completa, enquanto a calvária (parte superior do crânio) possuía poucos fragmentos. No total, foram encontrados apenas oito fragmentos do crânio, os quais serviram de base para a reconstrução.

A solução foi comparar a reconstrução tradicional do crânio de Lucy com dados atualizados de outras duas fêmeas de Australopithecus afarensis, descobertas posteriormente.

"Os fragmentos dessas fêmeas complementaram as partes ausentes, e a comparação revelou grande compatibilidade. Isso confirmou que a reconstrução feita inicialmente estava anatomicamente precisa", explica. 

O trabalho contou com a participação de especialistas de diversos países. Do Brasil, Cicero Moraes liderou a equipe, que incluiu Jiří Šindelář e Matej Šindelář, da República Tcheca, especialistas em digitalização 3D.

Da Itália, participaram os arqueólogos Luca Bezzi e Alessandro Bezzi, além de Nicola Carrara, da Universidade de Pádua, e Elena Varotto, da Universidade Flinders, na Austrália. Francesco Galassi, baseado na Polônia, também contribuiu, repercute o Extra.

Antes desse projeto, a equipe já havia realizado reconstruções faciais de outros hominídeos, incluindo a Criança de Taung, primeiro trabalho do grupo em 2012, além do Paranthropus boisei e do Homo naledi. No total, foram recriados 24 hominídeos, alguns dos quais estão expostos permanentemente no museu da Universidade de Pádua, na Itália.