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Notícias / Arqueologia

Descoberta nos Andes revela antigo sistema inca de monitoramento climático

Cordas rituais usadas por aldeões de Santa Leonor de Jucul indicam que os incas registravam mudanças ambientais há séculos

Gabriel Marin de Oliveira, sob supervisão de Fabio Previdelli Publicado em 23/06/2025, às 18h30

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Uma borla de cauda de lhama Jucul - Divulgação/Sabine Hyland
Uma borla de cauda de lhama Jucul - Divulgação/Sabine Hyland

Novas pesquisas com quipus — o enigmático sistema de cordas com nós dos incas — revelaram que esses artefatos não serviam apenas para contabilidade e registros administrativos, mas também para monitorar o clima e registrar rituais sagrados ligados ao meio ambiente.

A descoberta foi feita em Santa Leonor de Jucul, uma remota vila no alto dos Andes peruanos, onde foram preservados 97 quipus centenários, incluindo o maior já encontrado, com mais de 68 metros de comprimento.

A pesquisa, liderada por especialistas em cultura andina, revelou que os quipus de Jucul não usam apenas nós para armazenar informações. Em vez disso, detalhes como cores, texturas e tipos de borlas penduradas nas cordas indicam locais sagrados e tipos de oferendas realizadas pela comunidade para influenciar fenômenos climáticos.

Por exemplo, caudas de lhama bege e macias representam oferendas ao lago sagrado Paccha-cocha, ligadas ao pedido de chuva em épocas de seca.

"Se há muitas borlas associadas a Paccha-cocha em determinado ano, sabemos que foi um período seco, pois as oferendas foram feitas para estimular as chuvas", explicou Don Lenin Margarito, idoso da vila e guardião dos rituais locais.

Segundo ele, os quipus de Jucul são registros sagrados do ambiente e do clima, consultados publicamente no passado para orientar a comunidade sobre os ciclos naturais.

Esses quipus oferecem uma oportunidade única de reconstruir padrões climáticos históricos baseados no conhecimento indígena andino. Uma equipe de pesquisadores, liderada por Ivan Ghezzi, trabalha para datar com precisão essas peças usando técnicas avançadas de radiocarbono, o que permitirá criar uma cronologia detalhada das variações ambientais registradas pelos incas.

Riscos e Mistérios

Segundo o 'Live Science', apesar de sua importância, os quipus de Jucul enfrentam riscos de deterioração causados por insetos, mofo e roedores. Com apoio do Museu Britânico, os artefatos serão limpos, preservados e futuramente expostos ao público, garantindo a conservação desse patrimônio raro da cultura andina.

Santa Leonor de Jucul é uma das apenas cinco aldeias nos Andes que ainda guardam quipus ancestrais, considerados fundamentais para entender como os incas codificavam informações complexas em padrões de nós, cores e materiais.

Pesquisas em andamento podem ajudar a desvendar o significado das borlas e trazer novas luzes sobre o sofisticado sistema de escrita e memória desenvolvido por uma das maiores civilizações pré-colombianas.