Descoberta de camadas de argila é indício de que o Planeta Vermelho pode ter abrigado ambientes propícios à vida há cerca de 3,7 bilhões de anos
A descoberta de camadas espessas de argila na superfície de Marte reforça a hipótese de que o planeta pode ter abrigado ambientes propícios à vida há cerca de 3,7 bilhões de anos. A formação da argila depende da presença de água líquida, além de condições climáticas mais quentes e úmidas do que as atuais — o que indica que Marte já teve um ambiente radicalmente diferente.
Segundo Rhianna Moore, pesquisadora responsável pelo estudo, essas regiões eram provavelmente áreas de baixa elevação, com grande estabilidade geológica. "Um terreno estável pode criar ambientes potencialmente habitáveis, que se mantêm por mais tempo", explicou ela em comunicado. Na Terra, depósitos de argila geralmente se formam em ambientes úmidos com pouca erosão, e a equipe quis entender se algo similar ocorreu em Marte.
O estudo, publicado em 16 de junho na revista Nature Astronomy, analisou dados da sonda Mars Reconnaissance Orbiter, em operação desde 2006. Ao todo, foram estudados 150 depósitos de argila espalhados pela superfície marciana, de acordo com o portal Galileu.
Os pesquisadores descobriram que essas formações estão principalmente em regiões baixas próximas a antigos lagos, mas longe de vales por onde a água fluía com força, o que indica uma erosão física reduzida.
Essa configuração sugere que houve predomínio de intemperismo químico — transformações químicas causadas pela interação entre rochas e água — em vez de erosão física intensa. Isso favoreceu a preservação da argila ao longo de bilhões de anos. O processo se deu de forma diferente do que ocorre na Terra, onde a atividade tectônica e a presença de minerais como o calcário ajudam a retirar CO₂ da atmosfera e regular o clima.
Em Marte, a ausência de tectonismo e a presença limitada de minerais carbonáticos sugerem que o CO₂ liberado por vulcões antigos não foi removido de forma eficiente, o que pode ter contribuído para um clima mais quente e úmido — cenário ideal para a formação da argila.
Além disso, os cientistas acreditam que a argila pode ter absorvido água e subprodutos químicos como cátions, impedindo reações que normalmente formariam carbonatos. Isso pode ajudar a explicar a escassez desses minerais em Marte, como conclui Moore: "A argila é um dos muitos fatores que contribuem para essa estranha falta de carbonatos previstos no planeta."