Pluma do manto sob a região de Afar, na África, pulsa como um coração, revelando dinâmica profunda que está dividindo o continente
Gabriel Marin de Oliveira, sob supervisão de Éric Moreira Publicado em 30/06/2025, às 14h56 - Atualizado em 04/07/2025, às 18h24
Nos últimos dias, geólogos britânicos detectaram uma série de pulsações rítmicas de material quente vindas do manto terrestre sob a região de Afar, no nordeste da Etiópia. O estudo, publicado na revista Nature Geoscience, descreve essas pulsações como se fossem "batimentos cardíacos" do planeta — um processo cíclico e profundo que pode estar redesenhando lentamente o mapa da África.
A pesquisa analisou 130 amostras de rochas vulcânicas com menos de 2,6 milhões de anos, comparando-as com materiais mais antigos para entender a evolução química da região. As análises revelaram a presença de uma pluma do manto – uma gigantesca coluna de rocha quente ascendente — que pulsa sob a crosta continental, comportamento raramente observado em plumas típicas, que costumam surgir sob os oceanos.
"A análise química sugere que a pluma de Afar está pulsando, como um batimento cardíaco. Esses pulsos parecem se comportar de forma diferente dependendo da espessura da placa e da velocidade com que ela se separa", explicou o geólogo Tom Gernon, professor da Universidade de Southampton, no Reino Unido, em comunicado.
Esses "batimentos" são, na verdade, fluxos periódicos de material parcialmente derretido que sobem das profundezas e interagem com as placas tectônicas, contribuindo para a abertura de grandes fendas no solo da Etiópia. O fenômeno está ligado ao processo de ruptura continental, que pode, no futuro, levar à formação de um novo oceano entre as placas africanas.
"Descobrimos que o manto abaixo de Afar não é uniforme ou estacionário – ele pulsa, carregando assinaturas químicas distintas. Isso é importante para a forma como pensamos sobre a interação entre o interior da Terra e sua superfície", destacou a autora principal do estudo, Emma Watts, da Universidade de Swansea.
Segundo os pesquisadores, essas pulsações se formam por variações químicas no manto, envolvendo tanto material reciclado por antigos processos tectônicos quanto rocha primordial, preservada desde os primórdios do planeta. Fenômenos semelhantes já foram observados em outros pontos do globo, como nas Ilhas Canárias, mas o caso de Afar se destaca por sua complexidade e profundidade.
Segundo o 'Metrópoles', a descoberta ajuda a entender melhor como a atividade profunda da Terra influencia fenômenos de superfície como vulcanismo, terremotos e a própria configuração dos continentes.
"Essa evolução das ressurgências do manto profundo está intimamente ligada ao movimento das placas acima. Isso tem implicações profundas para o entendimento do vulcanismo e da ruptura continental", concluiu Derek Keir, coautor da pesquisa e professor na Universidade de Southampton.