Busca
Facebook Aventuras na HistóriaTwitter Aventuras na HistóriaInstagram Aventuras na HistóriaYoutube Aventuras na HistóriaTiktok Aventuras na HistóriaSpotify Aventuras na História
Notícias / Ciência

"Chernobyl silencioso" teria alterado tanto a Terra que, 80 anos depois, o manto ainda se move

Mar de Aral, localizado na Ásia Central, estaria passando por uma elevação constante da superfície terrestre abaixo de sua bacia

por Giovanna Gomes
[email protected]

Publicado em 17/04/2025, às 13h13

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Evolução do Mar de Aral com o passar dos anos (2000, 2007, 2014) - Divulgação/NASA Earth Observatory
Evolução do Mar de Aral com o passar dos anos (2000, 2007, 2014) - Divulgação/NASA Earth Observatory

Um estudo publicado na revista Nature Geoscience sugere que o Mar de Aral, na Ásia Central, está passando por uma elevação constante da superfície terrestre abaixo de sua bacia, causada por alterações profundas no manto terrestre.

A surpreendente deformação geológica está diretamente ligada ao desastre ambiental iniciado na década de 1960, quando a água dos rios que alimentavam o lago foi desviada para fins de irrigação. Esse processo reduziu drasticamente o volume do que já foi o quarto maior lago do mundo, provocando sua divisão em dois corpos menores em 1986.

Segundo os pesquisadores, nos últimos 80 anos o Mar de Aral perdeu cerca de 1,1 bilhão de toneladas de água — o equivalente à massa de 150 Grandes Pirâmides de Gizé.

Essa perda substancial reduziu o peso exercido sobre a crosta terrestre, levando inicialmente a uma recuperação superficial do solo, comparável a uma mola que se descomprime. No entanto, o novo estudo revela que a elevação continua mesmo décadas após o desaparecimento da maior parte da água, e está acontecendo em uma escala maior do que se imaginava.

Utilizando a técnica de radar de abertura sintética interferométrica (InSAR), os cientistas detectaram uma elevação gradual do solo em um raio de até 500 quilômetros ao redor do antigo centro do Mar de Aral. Entre 2016 e 2020, a elevação anual média foi de 7 milímetros, totalizando 40 milímetros no período analisado.

A explicação para o fenômeno, segundo os autores do estudo, está na resposta do manto terrestre — uma camada de rocha viscosa que flui lentamente — à redução de carga na superfície. De acordo com o portal Live Science, esse comportamento é semelhante ao que ocorre na Escandinávia, onde o manto ainda está se ajustando à retirada das gigantescas camadas de gelo da última era glacial.

Embora o Mar de Aral nunca tenha sido muito profundo, sua vasta extensão era suficiente para causar afundamento da crosta, e agora, com a perda da massa de água, o manto está "empurrando" a superfície de volta para cima.

Efeitos duradouros

A pesquisa destaca como a atividade humana, nesse caso a engenharia hídrica realizada durante a era soviética, pode ter efeitos duradouros sobre a dinâmica geológica da Terra profunda. “Essa elevação destaca o potencial das atividades humanas para influenciar a dinâmica da Terra profunda”, escreveram os autores.

O Mar de Aral hoje é apenas uma sombra do que foi. Em 2007, uma das subdivisões formadas após a seca dos anos 1980 se partiu novamente, e em 2020 uma das três bacias remanescentes desapareceu por completo.

O esvaziamento do lago teve consequências severas, incluindo desertificação acelerada, escassez de água e perdas econômicas na região. Por isso, o desastre é frequentemente chamado de "Chernobyl silencioso", em alusão às suas consequências ambientais devastadoras e de longo prazo.

+ Confira aqui o estudo completo.