Arqueólogos na Ucrânia descobriram fragmentos de marfim de 400.000 anos, possivelmente os mais antigos já feitos por seres humanos
Arqueólogos na Ucrânia descobriram fragmentos de marfim de 400.000 anos, possivelmente os mais antigos já feitos por seres humanos. A escavação ocorreu em Medzhibozh A, no Vale do Bug Sul, uma área que, na Idade Paleolítica Inferior, abrigava animais como cavalos, rinocerontes lanosos e grandes felinos selvagens. O estudo foi publicado no International Journal of Osteoarchaeology.
Além de 24 fragmentos de marfim, foram encontrados artefatos de sílex e quartzo, que indicam a presença de atividades humanas ou hominídeas. Restos de animais presentes no local sugerem que a fauna da época era diversa e de grande porte.
Vadim Stepanchuk, autor principal do estudo, disse ao site Phys.org que acredita que o sítio possa ter sido habitado por Homo heidelbergensis, uma espécie ancestral do ser humano moderno. No entanto, até o momento, não foram encontradas evidências fósseis que confirmem essa hipótese.
Os fragmentos de marfim foram especialmente estudados em laboratório, onde passaram por análises microscópicas e tridimensionais. Inicialmente, os arqueólogos não tinham uma hipótese específica, mas características dos fragmentos, como sinais de modificação deliberada, levaram a um exame mais aprofundado.
Segundo o New Scientist, a análise indicou que 14 dos fragmentos mostram evidências claras de que foram trabalhados por humanos, usando técnicas de modelagem como lascamento do marfim sobre uma bigorna de pedra com outra pedra.
O material utilizado parece ter sido proveniente das presas do mamuteMammuthus trogontherii, uma espécie de mamute que habitava a Eurásia durante o Pleistoceno. No entanto, os artefatos são pequenos e o marfim é um material relativamente macio, o que os torna inadequados para uso como ferramentas de corte, um ponto crucial na interpretação de sua função.
Os pesquisadores propuseram algumas teorias sobre o uso dos fragmentos. Uma delas sugere que serviriam como ferramentas de ensino para demonstrar técnicas de fabricação de ferramentas com outros materiais, como madeira ou pedra.
Outra hipótese é que os fragmentos fossem brinquedos infantis, usados para imitar adultos criando ferramentas, refletindo práticas de aprendizagem social. Também se considera a possibilidade de que os habitantes tivessem experimentado com marfim devido à escassez de pedras adequadas para ferramentas, repercute a revista Smithsonian.
O formato dos fragmentos, similar a ferramentas de lascas típicas do sítio, sugere que os artefatos poderiam ter uma função social ou comportamental, possivelmente ligada a brincadeiras ou imitação.
No entanto, os cientistas não descartam a hipótese de que os fragmentos tenham sido formados por processos naturais, como o atrito entre as presas de mamutes durante uma luta, o que seria investigado por meio de experimentos com presas de elefantes modernos, informou o New Scientist.
Se confirmada a origem humana, a descoberta reverteria as estimativas sobre o uso de marfim, anteriormente datado do Paleolítico Superior, com cerca de 50.000 anos, e até 120.000 anos com Neandertais. Isso sugeriria que os hominídeos possuíam capacidades cognitivas e sociais mais complexas do que se imaginava.