Série que retrata família dilacerada por crime de filho adolescente é aclamada pela precisão ao abordar temas como misoginia
A série 'Adolescência', da Netflix, tem gerado repercussão ao retratar a história de uma família abalada pela prisão do filho, Jamie, de 13 anos, acusado de assassinar um colega de classe.
O drama, filmado em plano-sequência, aborda temas como a influência de figuras controversas como Andrew Tate e a cultura da "manosfera", e tem sido elogiado pela precisão com que retrata a realidade da radicalização online e seus impactos na saúde mental dos jovens.
O especialista em saúde mental Noel McDermott, da Mental Health Works, em entrevista ao The Mirror, revelou que a série traça paralelos com casos reais de jovens que atendeu.
"Trabalhei com homens e jovens radicalizados", afirmou. "A misoginia aumentou exponencialmente. Atualmente, trabalho com homens jovens e homens em risco de envolvimento com a justiça criminal com histórico de encarceramento por violência e violência sexual".
McDermott destacou a precisão do terceiro episódio, que retrata a avaliação psicológica de Jamie para o relatório pré-julgamento. "O episódio três em particular foi o retrato mais preciso que já vi de avaliações do tipo forense", disse ele ao Mirror.
Teve o efeito de me levar de volta às experiências profissionais de sentar com jovens perigosos tentando formar um relacionamento para avaliar o quanto de risco eles representam", completou o especialista.
Noel também elogiou a forma como a série aborda o papel das plataformas de mídia social na radicalização de jovens. "O papel das plataformas de mídia social sem controle e sem grades de segurança também é retratado de forma soberba", afirmou ao Mirror. "Felizmente, com a lei de segurança online, estamos começando a entender nosso papel como pais".
McDermott espera que a série sirva como um alerta para pais cujos filhos estão desenvolvendo atitudes extremistas. "A família em Adolescência não é extremista, mas seu filho se torna um. Ele é preparado enquanto está sozinho, online em seu quarto. Preparado por atores de má-fé que ganham dinheiro com nossos meninos e depois lavam as mãos deles, quando o proverbial bate no ventilador", seguiu ele ao Mirror.
No fim da entrevista, o especialista compartilhou ao Mirror dicas para pais protegerem seus filhos da radicalização online: "Fique na complexidade - dividir as coisas em boas ou más, certas ou erradas com questões complexas raramente é útil. Precisamos de clareza absoluta de comportamentos que nunca devem ser tolerados, como a violência, mas também, como indivíduos, precisamos manter o diálogo sobre essas questões informado, complexo e humano. Incentive conversas adultas sobre essas questões".
"Tenha uma regra 'nós ouvimos, não julgamos' - isso permite que seus filhos lhe digam qualquer coisa e peçam ajuda. Também ensine a seus filhos que você não ficará bravo se eles falarem com outro adulto de confiança, como um professor, em vez de você", finalizou McDermott na entrevista.