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Vítor Soares / Philogelos

Philogelos: conheça o livro de piadas escrito há quase 2 mil anos

O fascinante "Philogelos" (do grego: “Amor ao Riso”) documenta piadas gregas com quase dois mil anos de existência; confira exemplos

Vítor Soares, professor de História Publicado em 15/02/2025, às 14h00 - Atualizado em 18/02/2025, às 07h24

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Imagem meramente ilustrativa de um bobo da corte - Getty Images
Imagem meramente ilustrativa de um bobo da corte - Getty Images

Se tem algo que pode atravessar os séculos, é a capacidade do ser humano de rir das mesmas coisas. A prova disso é o Philogelos (do grego: "Amor ao Riso"), uma coletânea de piadas escritas na Antiguidade Tardia, considerada o primeiro livro de piadas da história. Isso mesmo: piadas gregas com quase dois mil anos de existência.

Apesar de ser a coleção de piadas mais antiga que sobreviveu, o Philogelos não foi o primeiro livro do tipo. O historiador Ateneu conta que Filipe II da Macedônia chegou a pagar para um clube social de Atenas reunir as melhores piadas de seus membros. O dramaturgo romano Plauto também mencionou livros de piadas em suas comédias, indicando que essa prática era comum na antiguidade.

A autoria do Philogelos é atribuída a Hierocles e Philagrius, mas pouco se sabe sobre eles. Provavelmente, eles apenas compilaram piadas já populares na época. Há teorias de que o texto tenha sido escrito por volta do século IV d.C., com base na linguagem usada e em referências a eventos históricos.

Philogelos
"Philogelos" é a coleção de piadas mais antiga que sobreviveu - Divulgação

O que fazia os gregos rirem

O Philogelostem cerca de 260 piadas, organizadas por arquétipos comuns: o estudioso distraído, o trapaceiro, o misantropo, médicos e pacientes, professores e alunos, maridos e esposas. Também há piadas étnicas sobre cimeus, sidônios e abderitas, geralmente retratados como ingênuos ou supersticiosos.

Os temas das piadas dizem muito sobre a sociedade grega de 1600 anos atrás. Pessoas consideradas burras eram alvo frequente do humor, assim como escravos e carecas. Isso reflete as hierarquias e estereótipos da época, onde a ignorância era vista como cômica, a calvície era um estigma e os escravos eram tratados como mercadorias descartáveis.

Quer um exemplo? Veja essa:

"Um idiota, um careca e um barbeiro foram juntos em uma viagem.

Acampando em um local remoto, decidiram fazer turnos de quatro horas para vigiar seus pertences.

O barbeiro ficou com o primeiro turno e, querendo se divertir, rapou a cabeça do idiota enquanto ele dormia.

Quando seu turno acabou, ele acordou o idiota. Ao despertar e esfregar a cabeça, o idiota percebeu que estava careca e, indignado, resmungou:

"Que idiota esse barbeiro é... ele acordou o careca no meu lugar!"

E essa outra aqui, que poderia muito bem fazer parte de um stand-up moderno:

"Um indivíduo foi ao encontro de um idiota e reclamou: "Aquele escravo que me vendeste morreu!""Juro por todos os deuses - desculpou-se ele -, que ele nunca tinha feito tal coisa quando eu o tinha!"

O ser humano e as piadas

A Dra. Hoorie I. Siddique, especialista em psicologia, explica que rir de algo pode reduzir inibições e interromper o pensamento crítico. Isso pode ser perigoso quando o riso ocorre às custas de pessoas vulneráveis, pois desumaniza a vítima e impede a empatia. Por outro lado, zombar de figuras poderosas pode humanizá-las e encorajar a resistência contra a opressão.

Estudos também mostram que outros primatas compartilham um comportamento semelhante. Pesquisadores analisaram 75 horas de filmagens de chimpanzés, bonobos, gorilas e orangotangos e catalogaram diversas formas de brincadeiras provocativas.

Segundo a primatologista Isabelle Laumer, essas provocações raramente resultavam em agressividade, sugerindo que servem para testar limites sociais e fortalecer laços. Da mesma forma, o humor humano muitas vezes cria conexões sociais através do riso.

Nos dias atuais

Em 2008, o comediante britânico Jim Bowen testou algumas das piadas do Philogelos em público. O resultado? Algumas arrancaram risadas, outras soaram confusas. O comediante Jimmy Carr comentou que algumas delas são "impressionantemente semelhantes" às piadas modernas.

O humor mudou muito ao longo dos séculos, mas algumas coisas nunca saem de moda. Rir de mal-entendidos, ironias e absurdos da vida sempre foi e sempre será parte da experiência humana. Se até os gregos riam das mesmas bobagens que a gente, talvez o mundo não tenha mudado tão drasticamente assim.