Na época, teorias colocavam em xeque seu estado de saúde e até um possível golpe de estado dado no país
Há três anos no poder, o governo de Kim Jong Un foi marcado por excentricidades e por um grande medo de possíveis guerras contra tudo e todos. A grande incógnita que permeava seu mandato aumentou quando ele ficou “desaparecido” por 40 dias — o que fez com que borbulhassem frenéticas especulações sobre a saúde do ditador e a situação política do país.
Kim havia sido visto pela última vez em um show no dia 3 de setembro de 2014, acompanhado por sua esposa Ri Sol Ju. No final do mês, o jovem Líder Supremo não comparecera em uma reunião da legislatura da Coreia do Norte. TV’s estatais exibiam seu assento vazio no parlamento.
Quanto mais tempo ele ficava afastado, mais os rumores sobre uma possível deposição aumentavam — sem contar os mais paranoicos que temiam que Kim pudesse estar morrendo. Mas especialistas mais sensatos diziam que a razão mais provável era também a mais óbvia: ele estava doente.
Imagens de Kim durante o 20º aniversário da morte de seu avô, em julho, mostram o líder Supremo andando com certa dificuldade. Outras cenas exibem um Kim suando incessantemente. Uma TV estatal reconheceu que o ditador passava por constantes “desconfortos”.
A Yonhap, agência de notícias sul-coreana, especulou que o mais recente descendente da dinastia Kim pudesse estar sofrendo com gota. Sua farta dieta, aliada com seu sedentarismo, seriam fatores fundamentais para o desenvolvimento da enfermidade, que assolou seu avô e seu pai.
Fotos de Kim desde que ele assumiu a frente da Coreia do Norte mostravam um homem em rápida expansão: pelo menos ao que se diz respeito a sua circunferência. A obesidade era um fator de risco para a gota. “Ele está seriamente acima do peso", declarou o especialista da Coréia do Norte Andrei Lankov, que estudou em Pyongyang na década de 1980 e passou começou a lecionar na Universidade Kookmin de Seul. "Não é bom quando você está falando de um país onde tantas pessoas estão desnutridas”.
Kim já havia desaparecido dos holofotes por 10 dias em outra oportunidade, mas aquela era sua ausência mais longa desde que ele assumiu o lugar de seu pai em dezembro de 2011. Ainda assim, especialistas no país asiático alertavam contra as teorias conspiratórias envolvendo os membros da dinastia Kim.
“Esses episódios [como a ausência de Kim] revelam tanto sobre nós quanto eles - nossas próprias suposições, até obsessões, quando se trata da Coréia do Norte. Assumimos que a Coréia do Norte deve estar à beira do colapso; portanto, quando o jovem líder suspende seus implacáveis serviços por algumas semanas, presumimos que ele tenha sido derrubado”, disse John Delury, professor da Universidade Yonsei em Seul. “Por temos menos fontes de informações diretas e confiáveis sobre o país, não vale a pena nos apressarmos em qualquer especulação”.
Visivelmente mais magro, o ditador norte-coreano só reapareceu no dia 14 de outubro caminhando com a ajuda de uma bengala. O rosto sorridente e aparentemente saudável de Kim Jong Un colocava fim às especulações sobre um possível golpe de estado, mas deixava apenas uma certeza, quando se trata de Coreia do Norte, quase ninguém sabe exatamente o que ocorre dentro da fronteira do país.