Entenda como a relação entre o menino da vila e o compositor germânico rendeu um processo milionário contra a Televisa e Roberto Gómez Bolanõs
Amado pelos brasileiros, o seriado de televisão mexicano Chaves estreou no SBT em 1984 — embora os 312 episódios da produção original tenha sido gravados em sete temporadas, entre 26 de fevereiro de 1973 e 7 de janeiro de 1980.
A história sobre o menino que passa a maior parte do seu tempo em um barril só deixou de ser exibida por aqui em meados de 2020, devido a uma disputa judicial envolvendo a família de Roberto Bolaños e a Televisa.
Além de sua simplicidade e de personagens caricatos, o programa mexicano também alegrava as manhãs e tarde televisivas por suas canções. Afinal, quem não se lembra de toda a turma embalando o hit Que Bonita sua Roupa?
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Ou então da exaltação da criança em seu eu interior com os versos de "Se você é jovem ainda, jovem ainda, jovem ainda / Amanhã velho será, velho será, velho será! / A menos que o coração, que o coração sustente / A juventude que nunca morrerá!".
Isso sem contar a dramaticidade de Boa Noite, Vizinhança, ou de todo amor contido em "Quero ver / Outra vez / Seus olhinhos de noite serena". A musicalidade de Chaves, porém, vai muito além disso. O que poucos sabem é da relação entre o programa mexicano e o clássico compositor germânico Ludwig van Beethoven.
Talvez Chaves tenha uma das intros mais conhecidas entre as séries televisivas de todos os tempos. A música de abertura do programa, na versão brasileira, foi composta pelo ator e dublador Mário Lúcio De Freitas em 1989 — quase uma década depois do fim do show no México.
"Aí vem o Chaves, Chaves, Chaves, / Todos atentos olhando pra TV / Aí vem o Chaves, Chaves, Chaves, / Com uma historinha bem gostosa de se ver", diz o trecho de abertura que todos conhecem.
Mas a relação entre Chaves e Beethovenestá presente na abertura original do seriado que, desde seu primeiro episódio, usa a canção 'The Elephant Never Forgets', que faz parte do álbum 'Moon Indigo' do compositor de música francês Jean-Jacques Perrey, lançado em 1970.
Acontece que 'The Elephant Never Forgets' é uma versão de Perrey para uma música de Ludwig van Beethoven composta em 1811, chamada 'Turkish March' ('A Marcha Turca') — que fez parte da peça de August von Kotzebue chamada 'As Ruínas de Atenas'.
Segundo repercutido pelo BuzzFeed, uma postagem da Biblioteca Jurídica Argentina (BJA) aponta que Perrey chegou a processar Roberto Gómez Bolaños e a Televisa, em 2010, pela falta de pagamentos de direitos autorais.
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Segundo matéria da Ibero 909, estação de rádio da Cidade do México, Perrey alegou que Chespirito nunca pagou royalties aos compositores e intérpretes originais das músicas usadas em sua série. "Ele simplesmente se apropriou de forma tão grosseira que também licenciou o VHS e DVD de comercialização da série com elas", completa artigo da BJA
"Chespirito simplesmente pirateou todas as músicas que incluiu em sua série de televisão. O roubo e a impunidade foram tão grosseiros que em nenhuma de suas séries ele incluiu os créditos correspondentes aos autores originais pela música usada", prossegue a Biblioteca.
Bolanõs ainda teria usado outra música de Perrey, chamada Baroque Hoedown, nos créditos finais de Chapolin Colorado; e Country Rock Polka em Chespirito, aponta a Ibero 909.
Entretanto, a notícia só caiu no conhecimento popular um ano depois em que a Televisa entrou em acordo com o compositor francês para o pagamento de uma indenização (que teve o valor mantido em sigilo).
Assim, foi feito o reparo financeiro pelo uso indevido das canções durante todos os anos em que as mesmas foram exibidas na televisão ou comercializadas em filmes e outros produtos.