Ardi, uma etíope de 4,4 milhões de anos, faz a ciência rever a evolução humana
Esqueça a ideia de que os chimpanzés de hoje são uma espécie de dublês dos mais antigos ancestrais da humanidade. A fêmea do Ardipithecus ramidus, descoberta pelo paleoantropólogo Tim White, da Universidade da Califórnia, é o argumento definitivo contra essa visão. Ardi e os demais membros de sua espécie eram criaturas que andavam com duas pernas (como nós), mas também eram capazes de se movimentar pelo alto das árvores como quadrúpedes, apoiados nas palmas das mãos e dos pés. Pequeninos, com apenas 1,20 m e 50 kg, tinham dentes reduzidos e pouco afiados, o que sugere uma vida social pacífica.
Ardi é o mais antigo e completo exemplar da linhagem humana, desbancando até a célebre Lucy (1 milhão de anos mais jovem). Sua descoberta coloca em xeque a linha evolutiva humana, pois acreditava-se que o antecessor de Lucy teria uma estrutura muito mais próxima à dos macacos.
Dos pés à cabeça
Veja as diferenças entre Ardi e sua possível "descendente", a famosa Lucy
Cérebro
Com 300 centímetros cúbicos, o cérebro de Ardi era ligeiramente inferior ao dos chimpanzés atuais. A massa encefálica melhora com Lucy, podendo chegar a pouco mais de 400 centímetros cúbicos. É o começo do processo que resultaria nos 1 300 centímetros cúbicos do nosso cérebro atual.
Dentição
Ardi possui dentes pouco especializados, com molares pequenos, adaptados à ingestão de frutos, pequenas sementes, folhas e um ou outro inseto ou pequeno animal. Lucy apresenta um aumento dos molares, o que indica uma maior dependência de recursos vegetais duros de mastigar.
Tamanho relativo
Fragmentos achados junto de Ardi sugerem que não havia diferença de altura entre machos e fêmeas. A espécie de Lucy, no entanto, sinaliza que os machos podiam ser até 30% mais altos que as fêmeas: um possível sinal da formação de haréns.
Pelve
A pelve de Ardi indica que ela tinha semelhanças com os macacos primitivos. Lucy, no entanto, se assemelha com os humanos mais modernos. É provável que, enquanto Ardi era uma bípede facultativa, Lucy era uma bípede habitual.
Dedão
Ardi tinha o dedão do pé separado dos demais dedos, o que permitiria agarrar objetos com mais precisão. Já o pé de Lucy era mais parecido com o de um ser humano moderno, embora seus dedões ainda fossem mais afastados.