A bailarina da morte, de Lilia Moritz Schwarcz e Heloisa Murgel Starling, analisa como o negacionismo e disputas políticas intensificaram o número de contágios
Victória Gearini Publicado em 29/10/2020, às 19h12
Por meio de navios vindos da Europa, a gripe espanhola chegou no Brasil ainda no início do século 20. O vírus letal fez dezenas de milhares de vítimas em todo o território brasileiro, e contabilizou mais de 50 milhões de mortes ao redor do mundo.
Com alto risco de contágio, a gripe espanhola afetou a economia e revelou a precariedade dos serviços de saúde. Além disso, disputas políticas e o negacionismo dos governantes e de alguns médicos foram fatores que ajudaram a aumentar os índices de mortes.
Pessoas em zona de risco e mais pobres foram as principais vítimas da gripe letal. A mercê de estatísticas falsas e curas milagrosas inexistentes, a população brasileira teve que enfrentar o risco iminente da pandemia e o descaso do governo.
Lançada este mês pela editora Companhia das Letras, a obra A bailarina da morte recria o período da gripe espanhola, considerada uma das piores pandemias da História. A partir de um vasto acervo de fontes e imagens, as autoras Lilia Moritz Schwarcz e Heloisa Murgel Starling, revelam o cotidiano da vida e morte desta época.
Nesta obra, as renomadas escritoras apresentam como a sociedade brasileira enfrentou a pandemia, além de mostrarem como o negacionismo e as disputas políticas ajudaram a disseminar ainda mais a doença pelo país.
Disponível na Amazon em formato Kindle e capa comum, A bailarina da morte trata-se de um importante relato histórico sobre o período que matou dezenas de milhares de pessoas no Brasil.
Confira abaixo em trecho de A bailarina da morte (2020):
“Atchin!...Atchin!...”: essa era a manchete irônica estampada no jornal O Combate, no início do mês de julho de 1918. A notícia referia-se a um estranho surto de gripe que havia paralisado o esforço de guerra na Alemanha. O moral da população andava abaixo, e a doença atingia tanto a economia como a capacidade de mobilização da sociedade. Publicado em São Paulo, na forma de tabloide, o periódico fazia parte da imprensa de filiação anarquista e tinha um claro propósito: convencer o maior número possível de brasileiros de que a Grande Guerra, que se arrastava desde 1914 e continuava firme entrado o ano de 1918, era um embate insano. Além de compartilharem do antimilitarismo proclamado em alto e bom som pelos libertários de toda a Europa, os redatores de O Combate entendiam que o Império Alemão provocara o conflito para tornar-se uma potência mundial. Por isso mesmo, torciam para que o exército do kaiser fosse forçado a recuar depois de ter empurrado o mundo na direção do desastre, mas se recusavam a acreditar que uma velha e inofensiva gripe conseguiria sustar o esforço bélico na frente francesa.
Os anarquistas estavam certos na crítica radical a um confronto que, pela primeira vez na história, envolveria todos os continentes. A grande Guerra foi uma luta Bárbara pelo poder, na qual entrou em cena uma maneira nova de combater — a chamada “guerra moderna” — , que alterou para sempre as concepções tradicionais das operações militares, Culminou na queda dos quatro grandes impérios globais — russo, alemão, austro-húngaro e otomano — e matou milhões de pessoas”.
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A Grande Gripe. A História Da Gripe Espanhola, A Pandemia Mais Mortal De Todos Os Tempos, de John M. Barry (2020) - https://amzn.to/3czLxoz
A Gripe Espanhola: Os Dias Malditos, de João Paulo Martino (2017) - https://amzn.to/35WsZMS
Gripe Espanhola: A maior pandemia da história, de Editora O Curioso - https://amzn.to/2yXnEIT
A Pandemia de Gripe Espanhola de 1918 na "Metrópole do Café", de Leandro Carvalho Damacena Neto (2020) - https://amzn.to/2WQ64P6
Pandemias: a humanidade em risco, de Stefan Cunha Ujvari (2011) - https://amzn.to/2YYky26
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