Pracinhas brasileiros - 1SgtNahon-AHEx/Exército Brasileiro
Segunda Guerra

Segunda Guerra: Por que os pracinhas eram chamados assim?

Em 1944, mais de 25 mil pracinhas foram enviados à Itália junto da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Mas de onde o termo surgiu?

Fabio Previdelli Publicado em 23/11/2024, às 13h00

Na parte final da Segunda Guerra Mundial, mais de 25 mil brasileiros embarcaram para a Itália junto da Força Expedicionária Brasileira (FEB) em apoio aos combatentes Aliados. Na manhã de 16 de julho de 1944, os primeiros pracinhas desembarcaram no porto de Nápoles. 

Em entrevista à Aventuras na História, Durval Lourenço Pereira, tenente-coronel R1 do Exército Brasileiro e autor de 'Guerreiros da Província: A Jornada Épica da Força Expedicionária Brasileira' (Insight Book), aponta que, em primeiro momento, a participação dos Pracinhas foi considerada uma 'dor de cabeça' pelos Aliados

Oficial dos EUA auxiliar combatentes da Força Expedicionária Brasileira (FEB) - Agência Nacional (exposição virtual)

Afinal, aquela altura, os brasileiros eram vistos pela forma estereotipada como um verdadeiro 'Jeca Tatu' — personagem de Monteiro Lobato que mostrava o povo interiorano como caipiras preguiçosos e simplórios. 

+ Além dos nazistas, pracinhas também 'derrotaram' o preconceito do próprio brasileiro

Ainda assim, a presença dos pracinhas foi de extrema importância para que os Aliados pudessem romper a defensiva alemã na Itália. Mas, afinal, por qual motivo os combatentes brasileiros receberam esse nome? 

Tratado como heróis

Dos mais de 25 mil brasileiros enviados para a Segunda Guerra, cerca de 1.500 perderam suas vidas no conflito — deles, por volta de 467 morreram em combate. Além disso, outros 2.700 foram feridos ou ficaram mutilados pelo resto de suas vidas. 

Os restos mortais dos pracinhas foram transladados da Itália para o Brasil em meados de 1960, e depositados no mausoléu do Monumento aos Pracinhas, localizado no parque Eduardo Gomes, na cidade do Rio de Janeiro.

Quase um ano depois da campanha na Itália, os pracinhas foram recebidos com festa no Rio de Janeiro (que naquela época era capital federal do Brasil) e em outros estados do nosso país. 

Pracinhas sendo recebidos no Desfile da Vitória - 1SgtNahon-AHEx/Exército Brasileiro

Em 18 de julho de 1945, no Centro do Rio, ocorreu o chamado Desfile da Vitória. Segundo o Arquivo Nacional, a data se deu quando o 1º escalão da Divisão de Infantaria Expedicionária, comandado pelo general Zenóbio da Costa, desembarcou na capital carioca. 

Os pracinhas foram recebidos no Brasil com uma festa jamais vista na história do Rio de Janeiro. A imprensa da época calculou que, de cada três cariocas, um estava presente na Avenida Rio Branco durante o Desfile da Vitória", contextualiza Durval. 

O apelido 

A Força Expedicionária Brasileira (FEB) foi criada em 13 de novembro de 1943. Entretanto, no Exército Brasileiro, o termo "praça" possui uma origem anterior à sua criação.

O apelido vem de 'sentar praça', expressão relacionada ao ato de se alistar nas Forças Armadas, conforme aponta João Barone em '1942: O Brasil e sua Guerra Quase Desconhecida'. Esta denominação acabou utilizada para identificar os soldados rasos, de patente mais baixa.

Vale ressaltar, ainda, que no início dos anos 1940, a palavra 'pracinha' era usada de forma única e exclusivamente para descrever pequenos espaços públicos de lazer. Mas quando o termo passou a ser associado aos combatentes? 

Correspondência escrita pelo 1º tenente médico Cyro Chesneau, do Batalhão de Saúde - Biblioteca Nacional

Em artigo publicado no portal Memorial da Feb, Durval Lourenço, através de pesquisas no acervo da Biblioteca Nacional, aponta que a maior parte dos jornais só passou a utilizar o temo entre o final de dezembro de 1944 e o início de 1945. Entretanto, sempre que a palavra pracinha era citada, ela era colocada entre aspas. 

Curiosamente, entre os militares, o termo foi usado anteriormente a isso. Um exemplo disso é a edição de 21 de outubro de 1944 do 'Diário da Noite', que reproduziu a carta do 1º tenente médico Cyro Chesneau, do Batalhão de Saúde, à suas esposa. 

"A guerra vai de vento em pôpa, nossos pracinhas estão possuídos de um espírito combativo inigualável. Lamento não poder te contar o que temos feito".

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