Fotografia de Jean Purdy e imagem de divulgação do filme 'Joy' - Getty Images / Divulgação/Netflix
Joy

Joy: Mulher retratada no filme da Netflix foi esnobada na vida real

Disponível na Netflix, 'Joy' gira em torno da verdadeira história do trio de pesquisadores que criou a fertilização in vitro

Éric Moreira Publicado em 23/11/2024, às 09h00

Nesta sexta-feira, 22, chegou à Netflix o filme 'Joy', um drama biográfico que gira em torno das pesquisas de três médicos e cientistas responsáveis por desenvolver os princípios da técnica de fertilização in vitro.

Dirigido por Ben Taylor, o longa mostra uma figura menos conhecida na história: a enfermeira e embriologista Jean Purdy. Interpretada por Thomasin McKenzie, ela se une ao fisiologista Robert Edwards (James Norton) e ao ginecologista Patrick Steptoe (Bill Nighy) na missão de criar a solução para a infertilidade.

Purdy, que foi crucial no desenvolvimento dos métodos de fertilização in vitro, acabou esquecida na história, de forma que aqueles que receberam o mérito pela façanha foram apenas Edwards e Steptoe.

Pioneiros

Segundo a BBC, Purdy começou a trabalhar com Edwards e Steptoe em 1968, com apenas 23 anos. Juntos, viajaram para a Califórnia em 1969, onde realizaram mais pesquisas, a embriologista também participou dos testes do novo procedimento. Vale mencionar que ela foi cofundadora da primeira clínica de fertilização in vitro do mundo, a Bourn Hall, na Inglaterra.

Ao todo, Purdy foi coautora de 26 artigos acadêmicos ao lado de Steptoe e Edwards, tendo sido responsável diretamente pelo nascimento de mais de 30 crianças, enquanto viva. Ao todo, estima-se que mais de 6 milhões de bebês já nasceram em todo o mundo graças à técnica que o trio desenvolveu.

Infelizmente, a pesquisadora não pôde apreciar mais resultados de sua contribuição à medicina por muito tempo. Em 1985, com apenas 39 anos, Jean Purdy faleceu devido a um câncer.

Assim, seu trabalho como cientista "passou praticamente despercebido em comparação com o reconhecimento de Edwards e Steptoe", segundo um porta-voz da Universidade de Cambridge à BBC.

Jean Purdy e Robert Edwards em 1968 / Crédito: Getty Images

 

Buscando o reconhecimento

Pelos esforços, Edwards recebeu o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina em 2010, enquanto Steptoe teve grande reconhecimento pela participação nos estudos, no entanto, Jean acabou esquecida, assim como várias outras mulheres importantes da História.

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Embora muitos pensem que os cientistas tenham simplesmente se aproveitado da fama, deixando Purdy de lado nas homenagens, uma série de cartas reveladas pela Universidade Cambridge, no Reino Unido, em 2019, mostram que Edwards, especialmente, tentou, em diferentes momentos, tornar a contribuição de Purdy pública ao mundo.

Em algumas das correspondências, que hoje estão no Centro de Arquivos Churchill, na Universidade de Cambridge, é possível notar tentativas de Edwards de convencer o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido a apoiar suas pesquisas sobre a fertilização in vitro em prol de desenvolver uma possível solução para a infertilidade de mulheres. Porém, o que mais chama atenção são as tentativas de incluir o mérito de Purdy.

Em uma das cartas, enviada por Edwards às autoridades municipais de saúde de Oldham — uma cidade no noroeste da Inglaterra, onde foi inaugurada uma placa comemorativa no hospital em que Louise Brown, a primeira "bebê de proveta", nasceu —, o fisiologista destacou que a mulher contribuiu para o desenvolvimento da técnica tanto quanto ele e Steptoe.

Louise Brown, a primeira pessoa nascida de fertilização in vitro no mundo, e seus pais em 1979, e a mulher em 2018 / Crédito: Getty Images

 

Com isso, o que ele queria era apenas que o nome de Purdy fosse incluído na placa comemorativa, o que, infelizmente, não conseguiu. Edwards ainda tentou fazer o pedido em várias outras ocasiões, incluindo em outros hospitais, mas o pedido foi sempre negado.

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