Fotografia de um gato siamês e "assinatura" de F. D. C. Willard - Getty Images / Domínio Público
Fotografia de um gato siamês e "assinatura" de F. D. C. Willard - Getty Images / Domínio Público
Curiosidades

A curiosa história do gato que publicou artigos científicos

No fim da década de 1970, o gato F. D. C. Willard chamou grande atenção na comunidade científica como autor de dois artigos; entenda!

Éric Moreira Publicado em 09/03/2025, às 10h00

No fim da década de 1970, um artigo científico publicado no periódico Physical Review Letters, um dos mais prestigiados da física, chamou atenção na área. Porém, um fato que acabou ficando ainda mais popular nos anos que se passaram é que possui dois autores; entre eles, um gato.

Tudo começou quando, em 1975, o professor de física Jack H. Hetherington, da Universidade Estadual de Michigan, desenvolveu um artigo sobre o comportamento dos átomos em diferentes temperaturas. Com o texto pronto, ele pediu para que um colega revisasse o material, antes de enviá-lo ao periódico.

E esse colega acabou encontrando um problema inofensivo, mas crucial no texto: todo o artigo foi escrito na primeira pessoa do plural (utilizando a pessoa "nós"), embora o físico tivesse feito todo o trabalho sozinho.

Por mais que o erro não impactasse em nada no conteúdo, o artigo não poderia ser publicado daquela forma. É importante ressaltar que, na década de 1970, não era possível apenas substituir todas essas ocorrências como faríamos hoje através computador — o texto inteiro foi feito em uma máquina de escrever, e reescrever tudo levaria mais alguns dias.

Solução inusitada

Considerando a importância da publicação daquele artigo (afinal, ele foi citado mais de 60 vezes nos anos seguintes), Hetherington não considerou a ideia de reescrevê-lo por inteiro; logo, precisava encontrar um coautor. Seria simples pedir para que algum colega coassinasse a publicação, mas ele não queria seu nome vinculado à reputação de alguém.

Porém, ele tinha um companheiro que tinha certeza que não lhe decepcionaria, e que não seria tão difícil de convencer a 'assinar' — talvez com apenas um sachê de comida —: seu gato siamês, Chester.

Para impedir qualquer estranhamento, o físico incluiu ao seu lado o nome "F. D. C. Willard", sigla para "Felix Domesticus, Chester", e "Willard" era o nome do pai do gato. O artigo foi publicado com o título "Two-, Three-, and Four-Atom Exchange Effects in bcc 3 He", e o felino é descrito como membro do departamento de física da Universidade Estadual de Michigan.

Parte do artigo "Two-, Three-, and Four-Atom Exchange Effects in bcc 3 He" com as assinaturas / Crédito: Reprodução

 

Gato cientista

Embora algumas pessoas possam problematizar a decisão de Hetherington, ele escreveu no próprio artigo que não sente qualquer remorso pelo que fez, que não deixou de ser uma brincadeira inofensiva. Além disso, a identidade de Willard — ou melhor, Chester — nunca foi um segredo.

Logo, não demorou para que os colegas de Hetherington e outros pesquisadores descobrissem a brincadeira. A fama levou a uma decisão, no mínimo, justa: imprimir cópias do artigo, e assiná-las com uma pata do bichano, conforme repercute a Super Interessante.

Surpreendentemente, esse não foi o único artigo com a assinatura de "F. D. C. Willard". Em 1980, outro artigo saiu no periódico francês La Recherche, com o título "L’hélium 3 solide: un antiferromagnétique nucléaire".

Nesse caso, a decisão foi uma brincadeira, mais uma vez inofensiva, com Hetherington o utilizando de "alter-ego", visto que o único autor ali creditado foi o próprio gato.

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