Atualmente com 91 anos, o ator é uma lenda dos longas-metragens ambientados no Velho Oeste, porém sua carreira também não deixa a desejar em outros gêneros da indústria
Coluna - Daniel Bydlowski, cineasta Publicado em 10/09/2021, às 09h00 - Atualizado em 01/05/2022, às 09h00
Por um punhado de dólares. Este foi o nome de um dos filmes, da trilogia conhecida como spaghetti western dirigida pelo italiano Sergio Leone, que deu ao caubói misterioso e durão, quase que como o verdadeiro Clint, ou como o imaginamos, o reconhecimento internacional. Até ser descoberto por Leone, Clint fazia pequenas aparições na televisão.
Das armas e o estilo que o consagraram, Clint partiu para trabalhos com policiais agressivos e capazes de tudo para alcançar a justiça, e diretores como Dom Siegel em 1968, “Os abutres têm fome”, ao lado de Shirley MacLaine.
E com “Harry, o sujo” em que consagra sua fala sobre a Magnum 44 ao cara mau: “A pergunta que você tem que se fazer é: eu me sinto com sorte hoje, ou você, punk?”.
E se até aqui você sentiu que essa história parece ter inspirado algum outro personagem bem mais recente, de outro diretor famoso, pode até ser.
Seu interesse por direção começou a aparecer ainda na década de 1971, com “Perversa Paixão”, sem muito entusiasmo da crítica. Depois de outros altos e baixos, o real universo de Clint, humano e com contradições, começa a surgir em “Bronco Billy” de 1982.
Ao retomar um pouco do velho oeste, ainda que dentro do cenário de um circo, Eastwood consegue trazer reflexões sobre a guerra e liberdade, no meio de uma história sobre um vendedor de sapatos.
O clássico, “Os Imperdoáveis” de 1992 para muitos representou um divisor de águas na carreira de Clint. Como uma despedida aos personagens mais agressivos que lhe trouxeram a fama, o longa apresenta um roteiro espetacular, retratado por seu olhar de diretor maduro e profundamente bem interpretado por ele e atores como Morgan Freeman e Gene Hackman. E apesar do filme não ter feito sucesso nas bilheterias, foi o terceiro western a ganhar o Oscar de melhor filme.
De lá para cá, Clint literalmente se transformou no menino de ouro de Hollywood com produções escolhidas por ele, temas mais pertinentes e sensíveis. Um cinema sem holofotes, mas com cenas tensas cheias de jogos de sombras que dão visibilidade as imperfeições do mundo que precisam ser reveladas.
Armas e agressividade ficaram restritas ou mais discretas à roteiros baseados em fatos reais, assuntos abordados por ele em muitos de seus longas, principalmente quando conectados a tragédias.
A genialidade de Clint está justamente em deixar o seu passado de bang bang para trás e conseguir abordar a violência sem que ela seja incentivada, apenas retratada.
O ator e diretor, premiado quatro vezes pelo Oscar e homenageado pelo Prêmio Memorial Irving G. Thalberg, construiu seis décadas de sucesso até se tornar o cineasta com mais longevidade na carreira, com filme produzido ainda neste ano, não à toa. Consegue ressaltar os sentimentos advindos de situações traumáticas como tragédias, luto, adaptações, solidão, entre outros de forma única.
Seu legado se formou pela sua frase em que mostra a sua realidade: “Não é uma questão de estilo. Leio uma história e vejo o filme que quero fazer. Isso é tudo!”. E isso o fez diretor de 37 filmes e atuar em 56 filmes.
Claramente, não é fácil escolher entre os melhores filmes deste nonagenário, mas em homenagem ao seu aniversário vou citar alguns.
Com atores como Sean Penn e Kevin Bacon é um drama/suspense sobre a investigação do assassinato de uma menina e a relação entre amigos, aborda temas sensíveis que nos levam a refletir sobre justiça e verdades atemporais.
O renascimento da vida encontrado no vínculo entre dois estranhos, Maggie, interpretada por Hillary Swank, e Frankie, Clint, certamente te fará pensar um pouco sobre os laços que construímos com os outros.
Talvez um dos filmes mais bonitos do cineasta. Traz a realidade de muitos idosos nos Estados Unidos, que se depararam com um mundo globalizado e multiétnico e em meio a solidão (de seus filhos e família) mudam suas concepções e pensamentos
Clint contou ao mundo a história por trás do segurança que ao salvar milhares de vidas inocentes, se tornou um dos principais suspeitos de bombardear as Olimpíadas de Atlanta, no ano de 1996.
Tão misterioso quanto seus primeiros personagens, Clint é extremamente reservado à vida pública. A não ser quando são questões políticas e sociais. Californiano, se envolveu com o Partido Republicado em abril de 1986, com 72,5% dos votos e se descreve como libertário.
Compositor de 10 músicas, seu pai era metalúrgico e sua mãe dona de casa. Filho de classe média e protestante. Foi bombeiro, atendente de posto de gasolina e pianista em um bar de Oakland.
Quando ingressou no exército, o avião com ele caiu o deixando gravemente ferido, o que o fez escapar da Guerra da Coreia. Casou-se duas vezes, que resultou em sete filhos, alguns atores.
O cineasta brasileiro Daniel Bydlowski é membro do Directors Guild of America e artista de realidade virtual. Faz parte do júri de festivais internacionais de cinema e pesquisa temas relacionados às novas tecnologias de mídia, como a realidade virtual e o future do cinema. Daniel também tenta conscientizar as pessoas com questões sociais ligadas à saúde, educação e bullying nas escolas. É mestre pela University of Southern California (USC), considerada a melhor faculdade de cinema dos Estados Unidos. Atualmente, cursa doutorado na University of California, em Santa Barbara, nos Estados Unidos. Recentemente, seu filme Bullies foi premiado em NewPort Beach como melhor curta infantil, no Comic-Con recebeu 2 prêmios: melhor filme fantasia e prêmio especial do júri. O Ticket for Success, também do cineasta, foi selecionado no Animamundi e ganhou de melhor curta internacional pelo Moondance International Film Festival.
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